domingo, maio 28, 2006

Despeço-me dos beijos

Por um momento paralisei, seus olhos fitaram os meus, tão profundamente, que me senti invadida, e como se meus segredos fossem revelados, ruborizei. Longos segundos aqueles em que nosso olhar conversava em silêncio. Eu com vontade de dizer tudo, e em você, o mistério. Tiveram dias em que me apaixonei. Sempre sem saber ao certo o que fazer, quando, de súbito, nos deparávamos. Às vezes fugida, continuava o caminho a passos largos, outras vezes, ficava. Mãos frias, voz que vacila num “oi” e seus olhos me deixando sem jeito, insistentemente. Nos dias em que me apaixonei, descobri em mim sorrisos furtivos, tive vontade de fazer um poema, talvez um romance... Porém, pela primeira vez escrevo. Meu sentimento é vício, e se há mais lágrimas enquanto o alimento, esquecer é o remédio. Escrevo porque acho que nunca compreendeu, palavras faltaram com freqüência. E não confesso para ti, nessa madrugada insone, o que sinto, confesso para mim: que desde o início me apaixonei, mas não te amo.

domingo, maio 21, 2006

Navegando o azul

Uma borboleta, tão bonita! Colorida de azul... Debate-se contra o vidro com suas asas de película, tocando o mistério sem poder ultrapassá-lo. Luiza adora azul, é sua cor preferida. Morde a ponta do lápis sem perceber, admira o inseto em seu bailar ritmado de remar contra o vento, alheia a todo o resto, ao professor, que fala sem parar, e aos outros alunos... Começa a ficar com sono. O pequeno ser alado finalmente desiste e voa para longe, some do campo de visão restrito pela janela. Luiza fecha os olhos e se deixa levar pelas asas da borboleta... Mas, para onde?

quinta-feira, maio 04, 2006

Círculo, traço e pingo

Se deparou com aquele bilhete enquanto caminhava. No pedaço de papel rasgado apenas uma palavra “Oi”. Demorou um instante para juntar as duas letras e entender a mensagem, mas logo depois caiu em mirabolantes reflexões, pesando que alguém, em algum lugar se comunicava com ela, por mero acaso, ou não – se desse um voto de confiança ao destino. Abaixou-se para apanhar a folha, que já ameaçava deixar-se levar pelo vento, mirou-a mais uma vez, atenta aos traços e a palavras ficou ressoando em sua cabeça “Oi...”. Podia significar o início de uma carta de amor, ou de despedida, podia ser letra rabiscada durante conversa pelo telefone, podia ser tudo como podia ser nada... Porém era o que era, círculo, traço e pingo.
Foi-se indo pelo passeio, alheia ao mundo ao redor, imaginando conspirações extraterrestres e de repente...
_ Oi!...
Era para ela que falavam. No entanto, não sabia de onde surgia aquela voz, as pessoas na rua pareciam não ouvir, ela se desesperava, e a palavra continuava ecoando e retumbando em cada fachada de prédio. Então pensou que deveria ser sonho, mas tudo era por demais real. Sentou-se no ponto de ônibus para colocar as idéias no lugar. O bilhete em sua mão encarando-a, vigiando seus olhos... Enfim, tomou coragem e disse sem saber para quem falava.
_Oi...
E foi nesse momento que o telefone, no orelhão ao lado, tocou.