sábado, junho 14, 2008

Poética do Cotidiano


Leve esse tempo calado
Que o vento leva como folha seca
Carregada como resto
Passado por olhos passantes
E desatentos em pontos de ônibus
Nos dias frios a espera
Da condução que passe
E os carregue por fim
Não tão leves virando passado
A cada instante que o tempo passa.

sábado, junho 07, 2008

Expresso duplo com chantili

_Tem fogo?
Ele procura o isqueiro no bolso e acende o cigarro dela.
_Você não come açúcar, mas toma capucciono com chantili?
_Não querido, expresso duplo. Já te disse, prefiro sentir o gosto das coisas. Mas não resisto ao chantili.
_Sei... Posso ser sincero?
Eles se olham em silêncio por um momento. Goles de café para cada lado. O dela com chantili, o dele repleto de açúcar. E os cigarros, o dela, filtro branco. O dele, Malborão, cigarro de macho.
_Como se você soubesse ser sutil. Fala logo.
_Ia te perguntar da vida... Logo que acendi o seu cigarro. Aquela pergunta de praxe, faz tempo que a gente não se vê. Saber como você está, era a primeira providência. Era o mais óbvio a ser dito. Seria educado...
_Frederico, a gente não se vê há duas semanas.
_Mas não seria sincero.
_O quê?
_A pergunta.
Ela toma mais um gole de café, entre as tragadas. O chantili, já completamente absorvido pelo líquido escuro.
_Você e suas maluquices.
_A verdade é que eu não quero saber... Não, não é. Na verdade eu sei, é esse o problema.
Ele diz mexendo o açúcar no fundo da xícara com a colherinha de metal. O barulho do metal em contato com a louça, num ritmo circular.
_Não estou entendendo mais nada.
_O problema, Clara, é que eu sei como você está.
_Fred, to achando essa conversa muito estranha. Você tomou alguma coisa, foi isso? Por que eu não sei onde você quer chegar.
Eles se olham em silêncio. Ela coloca a xícara vazia no pires depois do último gole. O café dele esfriando, intocado.
_Você está bem.