sábado, outubro 18, 2008

A escafandrista

“Não sei se sei captar a essência daquilo que te descreve tão bem como se pudesse ver-te com os olhos da mente, a ponto de confundir se sonho, ou se, verdade incontestável, te materializo diante de mim. Queria dar-te um presente em palavras, como uma vez quis te dar estrelas. Buscadas em um poema, no qual subia escadas. Veja bem, que esse é o meu presente mais sincero, retirado da confusão de um sentimento, para, literalmente, transformar em texto. Não um poema concreto. Um desenho formados de letras que descrevem teus olhos, teu sorriso e o mais que te completa. Comecei a escrever no ônibus em pedaço de papel que encontrei na bolsa e mal coube a primeira parte. Sem imaginar por onde ia dar o desabafo, sem saber o que iria escrever, mas certa de que desejava escrever-te no dia do seu aniversário.”

Ela virou o papel do avesso, e por cima das imagens impressas da propaganda não encontrou nenhuma outra palavra que fosse sua. Ela desceu do banco que usara para alcançar as bolsas velhas no maleiro e sentou-se na beirada da cama. Em uma das mãos, a bolsa da alça rasgada, na outra, o bilhete. Não havia data. Mas talvez, se pensasse um pouco, pudesse lembrar mais ou menos o dia. Nenhum nome. Se tivesse se apaixonado menos durante a juventude, seria mais fácil. A letra era sua, isso reconhecia. Mas por que não teria entregado o bilhete? E se ele tivesse chegado nas mãos destinadas? Mudaria alguma coisa? A senhora já com alguns cabelos brancos, riu. Uma risada que era quase uma respiração mais forte. E tentou fazer com que a sensação que lhe percorria o corpo durasse o máximo de tempo. Mesmo que fosse apenas um segundo, já era um mergulho.

sexta-feira, outubro 03, 2008


"Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais..."
(Clarice Lispector)
- Agora leia de baixo para cima...