domingo, fevereiro 05, 2006

Catavento e Cotovia

Cansada de planar despretensiosamente no alto do céu, a Cotovia resolveu baixar as asas e voar no horizonte dos telhados das casas e prédios. Queria ver o movimento das gentes das redondezas e quem sabe encontrar algum pouso interessante de onde ouvisse a cantoria de outros pássaros.
E foi no seu caminho rumo a terra firme que se encantou por um rodopiante colorido que avistou preso às grades de uma janela. Tocada por súbita beleza, por pouco, não perdeu os sentidos e tombou em direção ao asfalto. Aterrissou num fio de alta tensão e ficou a admirá-lo. Para ela, Catavento e Cotovia significava a junção perfeita, ele era a formosura das cores, ela, a pureza do canto. E todos os dias, a partir daquele, viam-se os dois enamorados na beirada da janela.
Para tal amor inusitado e sem jeito só podia estar guardado um final triste.
O vento que fez o Catavento girar não foi a brisa mansa costumeira, foi uma corrente forte, vento de chuva. O céu enegreceu, as nuvens incharam e acinzentaram... A Cotovia, antevendo a cena trágica, tentou desprender o Catavento e levá-lo para longe, mas foi inútil. Os primeiros pingos vieram ligeiros, mancharam as cores. A tempestade chegou logo e dissolveu o papel. E por mais que a chuva castigasse, a Cotovia permaneceu ali até não restar mais nada além de uma fina haste de madeira presa às grades de uma janela.

2 Comments:

Blogger Giu Jorge said...

É a paixão que se despedaça, mesmo ao encanto dos olhos de quem ama. É a vida, o que acontece.

Lindo!! Lindo!...
Cada vez melhor... cada vez mais me apaixono por suas palavras, garota.
Bjos!!

15:34  
Blogger Isabella Goulart said...

Ai, triste de novo! Tô podendo com essas coisas não... Nó na garganta e frio na barriga. Aff!!

22:20  

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