E por fim
E por fim, na última carta, diz o que guardara contido, do último dia: como pudera defrontar-se com tão belos olhos sem sentir-se tocado? Estava sim, como nunca dantes marcado. Com ausência de palavras ditas e vastidão de palavras em burburinho na cabeça. Precisava dispersá-las em papel e caneta para aliviar a mente. Talvez nem endereçasse tal carta, de todas as possibilidades, a mais provável é que continuasse ali, perdida no caderno, apenas como forma de remédio instantâneo para o remetente aflito. E então somou todos os dias e todas as horas, cada momento, e entre esses transcreveu a melhor parte. Com letra escrita pela saudade do ontem. Deixou para as últimas linhas a despedida e o nome completo para pontuar autoria. Fechou o caderno, guardou a caneta e respirou aliviado, podia dormir agora. E naquele caderno ficou a carta, a última de outras tantas nunca enviadas. Entre o amor sobrava o caderno, os dias, as cartas, todas as horas e as palavras omitidas.
4 Comments:
Os belos escritos da Bê.
O que se oculta por entre essas linhas hein?
Só posso imaginar através dos sentidos e das palavras...
bjos vizinha!
PS: Sensibilidade latente!!!
O mais (me) dói no fim do amor são as palavras (suaves e cruéis) não cometidas...
mais uma vez você consegue transcrever momentos-chave com muita beleza.
=)
me lembrou uma canção que diz:
"o que está escrito em mim ficará guardado se lhe da prazer
a vida segue sempre em frente o que se há de fazer "
O caderno, Chico Buarque
todos nós temos palavras sufocadas em cadernos jogados no meio da bagunça dos nossos quartos.
Um certo caderno rosa...
Meu.
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