A culpa é da Insônia
Ela veio me visitar ontem à noite. Passou pelo cobertor, fez um afago nos meus pés e dividiu comigo o travesseiro, por algumas horas. Longas horas. Fez meu pensamento trabalhar rápido e não me deixou dormir. Também nem me atrevi, com tantas coisas na cabeça, apenas tentei, discretamente, pegar no sono, sem que ela percebesse, mas não era fácil com sua vigília constante e desisti, logo. Um pernilongo veio zunir no meu ouvido, como se já não bastasse serem quase cinco da manhã e o dia por nascer antecipando o meu cansaço. Enfim, já fazia tempo. Cheguei a acreditar que ela sumiria de vez, que as temporadas clássicas, de noites mal dormidas, faziam parte do passado, agora. Que nada! Vi que ela riu debochada. “Pensou que eu não voltaria?... Quanta inocência!” É, no fundo eu sabia que éramos um pouco dependentes uma da outra e que não tinha outro jeito, nos encontraríamos de novo, na solidão silenciosa da madrugada. A janela aberta deixava a sombra da árvore mais próxima invadir o quarto, seus galhos se mexendo de leve na parede branca. Parecia alguém do lado de fora, que tentava me dizer alguma coisa. E como não havia nada para fazer na monotonia da cama, minha atenção se perdeu naqueles movimentos, nas curvas... Tentava decifrar as formas. O quanto de poesia há na imagem de um galho e suas folhas projetadas na parede? Não sei. Não imagino o que possa ser dito sobre isso. Mas quem sabe? Confesso que existia a saudade escondida no aconchego das cobertas. Esses encontros me faziam escrever mais. Me acalmei e deixei que ela ficasse comigo mais um pouco. As duas deitadas de olhos abertos. O galho na parede, o tempo quente, o respirar ritmado de alguém que dorme na cama ao lado, o primeiro clarear do dia, o pernilongo foi embora, o cheiro de café que vem quase junto do sonho. Quando acordei já era quase meio-dia.
1 Comments:
Sempre nasce algo da insônia parideira.
pra quem nao sabia o q dizer, disse mt bem.
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