sexta-feira, dezembro 05, 2008

Trechos de um livro inacabado

Eles se olharam quase ao mesmo tempo, mas tão logo se encontraram nos olhares, desviaram as faces, envergonhados. Ela, com um sorriso sem graça, tentou prestar atenção na música, que tocava na roda cheia de gente. Ele voltou a olhá-la no instante seguinte e não conseguiu mais virar o rosto. Não podia definir o que era, mas podia sentir e era tão forte que a garota por traz do violão prendia seus olhos, inevitavelmente. Tudo nela lhe agradava, o jeito de sorrir, de passar a mão pelos cabelos e jogá-los para trás num movimento rápido, certeiro. Como se os fios já soubessem exatamente para onde ir, em forma de ondas. Os dois eram Joaquim e Luiza, vizinhos de toda a vida, criados praticamente juntos, pois regulavam idade. Naquele momento, mal deixavam a infância. Para ele parecia estranho gostar dela, como se por um golpe do destino começasse a enxergar diferente, de repente.
As pessoas em volta desapareciam e só existia Luiza. E não a mesma Luiza, nunca mais a Luiza de antes. Não depois daquele dia. Ela poderia rir quando lhe confessasse o amor. Tolice, Joaquim! Ela provavelmente diria. Porém, ele já sentia o calor percorrer o corpo e levou as mãos ao rosto pensando que podia estar vermelho. Ele queria explodir dentro do peito, era preciso falar, deixar que as palavras fluíssem naturalmente, ao bel prazer. Não podia voltar atrás.
Ninguém mais cantava e ele não havia notado. Em silêncio Luiza o observava, desafiando seu olhar intruso e insistente. Encabulado por todo sentimento que não conseguia esconder, Joaquim resolveu dar uma volta. Em seu rosto ainda o sorriso. Não importava! Quando ela cantava, eram bonitas todas as canções.

1 Comments:

Blogger Ana Moura said...

... a espera dos próximos capítulos...

:)

12:33  

Postar um comentário

<< Home