terça-feira, abril 29, 2008

Monólogo para dois

No meu traço roto, estou certa que te encontro. Vem! Ri da minha cara e diz que sou tola! Que a desilusão que me acompanha é carma. Não me desespero, sento na calçada úmida da chuva que nem vi, e ai eu que vou rir da tua cara. Tolo! Pedaço do meu caminho torto. Desviado. Vem sentar ao meu lado e dividir o resto da noite suja. Para descobrirmos onde isso tudo acaba. Se é que acaba. Vamos chutar os paralelepípedos soltos e andar como loucos. Rir dos outros bêbados perdidos nos becos. E beber o último gole virando a garrafa e mesmo depois repetir o gesto e sorver o vazio embriagante da cerveja. A gente se escora. E depois se arrasta pelas paredes ásperas e vai dar na cama. E entre emaranhados de lençóis, derrubaremos os travesseiros. Cala-te! Não diga nada. Eu sei. Eu compreendo que não age por vontade própria, é o álcool. Para ser sincera, estou louca, alucinada. Confundo as vozes que me falam. Por isso, cala-te! Já disse. Me beije, que quando te roço a língua, nem vejo. Sinto, apenas sinto. Vamos, me aperte forte, para ver se afugento a carência, aquela maldita! Apenas hoje. Não estou aqui para amá-lo, o desejo que me devora é carnal. Sobre calor de pele com pele. Vamos despistar os sentimentos e aproveitar o gozo. Úmido como a chuva que ficou na calçada. Vou ignorar o teu cheiro, que o denuncia e desfrutar minha própria desgraça. No auge do meu limite ultrapassado, não me importa quem seja, contanto que em teus braços enlaçada, se torne outro. Agora fale! Diga que sou louca, e acabe logo com isso. Brigue comigo e me bata na cara, para ver se acordo, para me ver longe quando fechar a porta na tua cara. E imediatamente me dar conta que a alucinação te fantasiou como eu queria e no final, eu viro o palhaço da história. Eu sei que já é tarde, mas fique mais um pouco. Esqueça tudo que eu disse, insanidades, culpo a bebida e te peço colo. Me deixe dormir sobre o teu peito, que acalento como outro. Qual o problema? Vamos ser sinceros, a solidão é tão crua ultimamente. Podemos nos iludir juntos, juntar a falta. Não suporto mais a insônia que vem por não encontrar onde encaixar o corpo. O que te importa fingir? Vamos acreditar nas mentiras por essa noite e nos contentar com a felicidade falsa. Amanhã? Nada aconteceu, fique tranqüilo. E tudo volta ao normal, como antes. Dorme. Se aquieta no meu canto, que te embalo no meu sono conformado. Enquanto te confundo, enquanto te amo, enquanto me machuco e te maltrato.

1 Comments:

Blogger Ana Moura said...

Fiquei uma mistura de maravilhada e deprimida.

00:29  

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