Mundo dos sapos
Tem sapos no meu banheiro. Dois pequenos e verdejantes sapinhos. Um deles prende as escovas de dentes. O outro, eu ainda não tive curiosidade de abrir o pote e olhar. A parede da sala continua roxa, e alguns móveis os mesmos, mas não no mesmo lugar. Agora um ser branco e peludo dorme no chão de tacos, denomino-a de coisa mais linda do mundo, e ela sempre me faz querer voltar pra casa mais cedo. Porém, tenho tido algo que posso chamar de estranheza dos dias. É um sentimento deslocado, não sei se ruim necessariamente, mas que também não me agrada. Ando pensando em mudar trajetórias, tomar rumos diferentes, não sei dizer exatamente onde, o bom seria me surpreender. A frieza dos dias comuns me afeta. A dureza do nada me toca, muito menos me convence. Mais e mais aprendo a ficar sozinha, a atropelar a falta que sinto com um bom filme. Comprei um cachorro para os dias de carência. Sabia que ia dar nisso. Os amigos andam distantes e cansei de não conseguir me envolver com ninguém. Que mundo sem jeito. Acho que ta tudo errado. Eu preciso da vibração dos olhares, eu preciso de um dia em que tudo pareça novo, inusitado. Eu preciso me encontrar nesse espaço, casa, cidade, preciso me encontrar em alguém, preciso que alguém me encontre... Bom, bobagens. Pode ser que nada disso aconteça, e eu me habitue. Pode ser que esse vazio dentro de mim, continue a se expandir e então... É disso que tenho medo, do vazio. Outro dia li, de um escritor que gosto muito, que os poetas são melancólicos e sempre sozinhos, veja bem: sempre. O sofrimento alimenta a poesia. Tão triste. Tenho tido muito sono de manhã e escrito pouco. A música também anda esquecida, naquele canto do violão fechado. Quanto ao amor... O engraçado é que escapou pela janela e nem percebi, distraída que sou. A salvação estaria no momento no qual se percebe que todo o querer era estar exatamente ali, em nenhum outro lugar, com mais ninguém. Mesmo que esse lugar seja a sala empoeirada da sua casa. O que dói é que sei como é. Para leitores mais desatentos, eu digo: isso é o amor. Meu mundo dos sapos vai indo por esse ano sem cor, que mal começou já está terminando. Enquanto isso, observo o encontro das outras pessoas e espero.
2 Comments:
Seu blog me dá as inspirações mais inusitadas... Comecei cantoralando o seu "Leve esse tempo calado" e veja só no que deu:
http://bpontomoi.blogspot.com/2008/08/poeminhas-das-7.html
lindo texto!
apesar da distância, sinto-me perto a cada frase sua que leio.
parece que fico por dentro dos acontecimentos. ainda que os mais sutis. aqueles da alma.
hoje a gente se atualiza dos acontecimentos desses nossos mundos sem jeito.
e mata logo essa saudade! eba!
lendo esse post lembrei muito daquela música socorro do arnaldo antunes. talvez ela resuma bem esse ano estranho. pra vc e pra mim tb...
beijo!
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