sábado, maio 10, 2008

Antes que a música acabe

Volta? Deixa eu te guardar mais um pouco? Deixa eu te olhar mais um pouco e perceber o quanto de você tenho em mim? Volta... Tem uma música que vem de um piano arpejado e me faz chorar. É tão suave, penso em escrever qualquer história que se encaixe bem e juntas possam dançar por ai. Quando se fecha os olhos e faz sentido. Porque a música de tão bonita toca na gente em algum lugar, não dá para precisar bem, mas nesse lugar ela corre como um sopro de adrenalina. E tudo se faz parecer igualmente bonito. E vem a história. Se fosse eu a personagem, gosto de me colocar como os personagens, todos têm de mim a dose necessária. Então eu iria correr, dia ensolarado de outono, aquela luz amarelada e as folhas secas pelo chão. Iria pisando as folhas e o estalido seco. Muitas folhas, muitos estalidos. Lá no fundo, você esperaria. Braços abertos, sorriso no rosto. Você sempre sorria... Talvez estivesse esperando há bastante tempo e só naquele momento eu me desse conta. Então, correria com todo o fôlego que tomaria de uma só vez, respirando fundo. Com a garra dos melhores competidores. Pegando mais velocidade. A vontade de sorrir também, com você e teus olhos verdes, por vezes castanhos esverdeados, que só eu notava. E o vento... O vestido que tremula de leve, e os cabelos, poderiam estar longos. Saudade dos meus cabelos longos. O sol me cegaria por um instante, que faria a dúvida se realmente te vejo ali. Sim. Eu colocaria a mão sobre a testa e te veria. Bem ali. Calças largas, camisa de malha, uma daquelas que te dei de presente. Ainda passo pelas lojas imaginando as camisas que compraria para você. As sandálias poderiam escapar dos meus pés, pois estaria muito rápido agora. Em chão de terra batida. Iria pisando nas pedras sem sentir dor, mas percebendo as folhas esmigalhadas sob a pele. Ao fundo um morro, bem verde. Um cachorro observando, atento ao encontro. Você pronto a me receber, com os braços abertos. Sempre sorrindo, como a última vez que te vi. Sua blusa de gola canoa, como prefere, também tremularia ao vento que bate mais forte. Meu coração bate mais forte... E a música continuaria arpejada no piano. O pianista, jovem ainda nem imaginaria o encontro que proporciona, e toda a emoção. E a saudade que sinto... Em todos os dias, todas as horas, minutos e míseros segundos, principalmente cada mísero segundo, em cada mísera nota da música mora a minha saudade ainda. Para o deleite dos embriagados de amor partido, amor estatelado no asfalto duro, sem nenhum aviso, sem nem ao menos adeus, sem que eu pudesse recordar sua última palavra... Para nosso deleite, enfim, nos abraçaríamos no ápice do melhor acorde, que o pianista teima em sustentar até só sobrar silêncio. Te abraço como quem pede colo. Para jamais esquecer que em teu colo me sustento. Te agarro em meio a pranto grosso, entalado até o momento. Dançaríamos. Meus pés descalços sobre os seus sapatos. E você me ensinaria como se dança, dois passos para um lado, dois para o outro. Me faria sorrir novamente. As notas ficando raras e lentas. Volta?... Deixa eu te presentear um último beijo? Deixa eu te confessar o meu amor antes que a música acabe? E a chuva começou torrencialmente quando termino a história. Coincidência, ou não, tão logo veio, parou.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

nó na garganta.. ê saudade que só faz aumentar..

18:27  
Anonymous Anônimo said...

Boniiiiiittooooo...

Beijo pra você,
Alice

www.asmaravilhasdopaisdealice.blogger.com.br

22:05  
Blogger Tricota e Crocheta said...

UAU! de encher os olhos de lágrimas e sentí-las escorrendo suavemente...

12:53  

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