domingo, setembro 16, 2007

Socorro, alguém me dê um coração...

Você tocou a campaninha. E eu, fechada dentro de mim, por um bom tempo agora, esperava. Não abri no primeiro instante, esperei mais um pouco, para guardar o momento da dúvida. Tinha aprendido a esperar, pelo seu tempo, pelos seus medos, por você. Você sempre se atrasa. E eu me importo, fecho a cara, depois passa. Voltei a mergulhar em livros, os personagens me rodeiam, menos os meus próprios que ficaram meio de lado. Outro dia, fumava na janela. Chovia lá fora. Um pingo apagou a chama e não percebi o cigarro morto entre os dedos, que tornei a levar até a boca. Achei graça. Não sei mais o que busco. Resolvi esperar que as coisas me achem. Te vi chorar hoje, momento estranho, como se a situação se invertesse um pouco. Teus olhos marejados, a baia passando pela janela da barca. Todos bêbados, o sol nascendo alaranjado e meio míope pelo vidro. Quis te segurar bem forte e dizer qualquer consolo bom que te acalmasse. E depois do sono pesado, você nem lembra direito, engraçado. Resolvi sair da bolha. Estourar o universo de pensamentos que me atravancam e seguir. Pra onde, não importa. Eu abri a porta. Algumas vezes era você, outras não. É sempre assim. Não sei se o problema é comigo, se sou eu quem complica tudo. Pode ser. Talvez não saiba lidar com o simples. Talvez a alma poeta, melancólica, me tome e dite o meu caminho, autoritária. Por isso sofro, mas passa. Como tudo. O coração que apanha, várias vezes. Depois não sinto nada. E me agarro quando sinto, como última esperança. Agora ele ta voltando a ficar calmo, resolvi destituir a pressa. Vi que os outros também choram, cada um com a sua dor, eu com a minha e a gente vai levando. Domingo não tem um gosto bom, o telefone não toca, é um dia solitário. Mas a solidão, no fundo, é uma companhia para todos, por mais que rechaçada. O amor o pior dos remédios. E a gente se olha, e se pergunta como lidar com a situação. Eu não sei, você menos ainda. E entre os trancos e as noites mansas a gente tenta se entender. E depois, cada um para sua casa.

3 Comments:

Blogger ~*Rebeca*~ said...

Marcela, você escreve de uma forma gostosa, querida.
Beijo e vou colocar seu blog nos meus prediletos.

Rebeca

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01:37  
Blogger Ana Moura said...

E a gente vai vivendo por falta de opção. E depois que o tempo passa tudo começa a fazer mais sentido. E melhora. Aliás, não sei quem disse que toda mudança é para melhor. Provavelmente sim.

beijooos

12:39  
Blogger Costela said...

“só pode amar quem sabe ser só”

O desespero por companhia, o desespero por “amor”, é uma fuga de si mesmo, é ter medo de se conhecer… Portanto, corrigindo os termos, esse desesperado não é ser só, mas ser sozinho: simplesmente pequenininho perdido em seu desespero

17:51  

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