Desnudo
Respirei fundo e te abracei, sabia que naquele momento, nada poderia ser além. Um abraço, um braço que percorre as costas. Um laço frouxo, que poderia ser menos nó. O nó que ficou na minha cabeça. Queria saber o que se passa debaixo da sua pele, carapaça, invólucro que te esconde de tudo que não sei, de tudo que involuntariamente imagino. O que fazer para deter as reverberações da mente, que capta partículas tão vagas, de sensações que você transpira e vem carregadas pelo ar? Eu respiro... E elas me invadem, me tomam e me habitam. Então eu prendo a respiração para senti-las mais profundamente e te sinto. Entre os meus braços apertados contra seu corpo: você. Entre os meus braços: a verdade, invisível a qualquer sentido óbvio. Eu: entre seus braços. Não poderia descrever a sensação que me percorre o corpo, mas todo ele formiga. Pedaços de um quebra-cabeças partido. A minha verdade é que não sei como encaixar as peças, e nem como entrar num sentimento abstrato, (se existente) e deixá-lo grudar com cola meu coração quebrado. Deixar que os remendos cicatrizem com o tempo. Deixar que remende-o e faça-o novo coração. E nem sei se meros detalhes, cacos de louça, como esse, significam, quando já espalhados pelo chão. A única certeza, confesso, é a da impossibilidade de voltar atrás.
2 Comments:
Que lindo, Bê. E essa imagem de envolver alguém com os braços, a imagem de envolver um outro ser pra além do ser, as reverberações da mente, que tudo isso caiba num abraço. É muito bonito.
Eu só precisava comentar algo. Mesmo que nada! Porque ninguém é maluco. Não mais do que todos os outros.
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