quarta-feira, novembro 14, 2007

Garoas

Pedi tranqüilidade, a calma do sono que vem num fechar de olhos, sem muita avalanche que assola, machuca. Fiquei tantos dias assim, doida, cansada. Como se tudo viesse em pacote fechado, endereçado com meu nome em caixa alta, para não ter erro. Sem doses homeopáticas. Para que o tapa doesse e marcasse. Fiquei meio anestesiada, flutuando em descompasso, para ver se passava. Enquanto isso, confusa, levava. Ainda levo, ainda confusa, mas passa. Vieram noites em claro, e olheiras, que os outros notavam. Dormir, só por cansaço a poucos instantes da manhã. Ou nem isso. Vi o sol entrar pelas frestas da janela. E me sentei no chão e chorei. Difícil explicar, compreender, mesmo para mim, colocar em palavras então. Parei de escrever. Emudeci o verbo. A página em branco. Os textos, antigos. Minha vida aos atropelos com ela mesma.
De repente veio mansa, a tranqüilidade. Não por completo, mas se achegou com o medo em trégua. Sorrateira que só, e imperceptível à primeira vista. Ainda seguro a sobrinha, vou em cima da corda e por baixo o abismo. Mas me divirto encontrando sorrisos, antes sumidos. Descobri pessoas atentas, prontas a me amparar, se por um deslize... Deslize esse, que chegou a balançar a corda. Porém, no quando dos pés no chão, às vezes, me perco. Acostumei-me às alturas e nem sempre encontro o caminho nas ruas. E me torturo e me odeio, em momentos de fraqueza, pequenas tempestades. Não sei como agir, e nem para que lado. A sombrinha me equilibra, sem ela, vou pelas calçadas com o olhar vazio, nada me toca. A inércia dos dias iguais. Do outro lado a firmeza na extremidade da corda, sigo como objetivo para ela. Mas pelo caminho, fico no vai e vem, no ritmo torto do corpo, dos sentimentos. Boa parte do tempo fujo acendendo cigarros, ou vendo a estrada com o pé encostado no vidro do ônibus. Algumas vezes alguém oferece a mão. A minha, suada, da equilibrista aflita em constante movimento. Escorregadia. E então, veio margarida no copo de requeijão, compromissos de loucuras, não tão loucas em noites perdidas, livros e livros. Me apeguei com outras histórias. E as pálpebras pesaram sem delongas. E o sono. Entre a sombrinha e a corda, a moça, que adormece ouvindo garoas.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

gostei... fiquei um pouco agoniada, nao gosto de altura enm sou boa em me equilibrar..
Nos veremos esse fds!

Beijos!!

09:03  

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