domingo, junho 28, 2009

Dos dois lados da mesa

Domingo é dia de casa. Pensei em escrever depois de muitos dias em branco, porque afinal de contas, não me reconheço quando passo tantos dias assim. Em branco. E repensei em um monte de coisas, e repassei na cabeça um monte de cenas envelhecidas. E ao relembrá-las percebi que de algumas já não me recordo bem. E na velhice dos meus 24 anos, me sinto sozinha essa noite. Uma boa caminhada pela praia, a maresia, faz bem sair de casa para variar. Faz falta sair para dançar, e se perder no descompasso dos pés com a música, pouco importa o ritmo, mas as pessoas em volta fazem toda a diferença. Foi então que senti saudades de recentes anos passados, e de pessoas e de momentos. Eu sei que existem coisas, que por enquanto, ainda é cedo para escrever.

Um Episódio qualquer:

A conversa começa quando se sentam no bar.
_ Eu sei que é difícil falar sobre isso, mas a gente precisa conversar.
_ É, acho que já ta na hora de termos essa conversa mesmo.
_ Então, preciso saber o que a gente tem.
O garçom chega e deixa o cardápio na mesa. Desviamos a conversa para resolver o que vamos comer. Uma pizza, uma porção de batatas fritas. De primeiro um suco de laranja e um chopp, bem gelado. A comida melhor pedir mais tarde.
_ E...
_ Eu não sei.
_ A gente não tem nada, é isso?
_ Não é isso.
_ Então o que?
Chega o chopp e o suco ainda vai demorar um pouco, espremer as laranjas e tal. Aproveita para tomar um gole antes de responder.
_ A gente fica, é isso.
_ Mas isso é muito esquisito. Não dá mais.
_ Eu sei que é estranho, mas você sabe que não posso ir além.
_ Claro que pode, é só você querer.
_ Não é bem assim. Você sabe.
_ O que eu sei é que ta foda.
Mais um gole de chopp e acende o cigarro, aproveita para pedir um cinzeiro para o garçom e definitivamente uma pizza.
_ O problema é que eu acho que começamos mal, na hora errada, sabe?
_ Pode até ser, mas você vai me desculpar, não existe hora para essas coisas, a gente faz o momento. É só querer.
Silêncio reflexivo.
_ Talvez, mas eu não consigo, não agora.
_ Porque você não tenta?
Não responde: “Porque eu tenho medo.” Mas deveria.
_ Porque não daria certo.
Não retruca: “Porque você tem medo.” Mas sabia.
_ Tentar pelo menos, se desse errado, enfim... A gente tentou.
Chega a pizza, à francesa. Mais um chopp, por favor.
_ Prefiro manter a nossa amizade.
_ Sei...
_ Não é que eu queira terminar com você, não é isso, mas se você acha que ta ruim do jeito que ta, que ta te machucando... A última coisa que eu quero é te machucar.
_ Você não ta me machucando, eu só quero entender.
Ri ironicamente.
_ Eu também não sei, às vezes penso que não tem nada a ver, mas outras vezes fico com saudade e penso que poderia dar certo... Só que não dá para assumir nada na dúvida, seria injusto.
_ Injusto com quem?
_ Com você, é claro.
_ Mas eu to te dizendo que eu quero correr o risco.
_ Não quero te machucar.
_ Você já disse isso.
_ É porque é verdade.
_ Você fica com esses papos, ta difícil te entender. Se você não gosta de mim, é melhor a gente terminar logo de uma vez. Vou ficar bem com isso, juro.
_ Você quer terminar? Se é o que você quer, eu entendo.
_ Não é o que quero, mas... Eu quero saber o que você sente por mim.
Silêncio constrangedor. Uma resposta qualquer seria muita responsabilidade, significaria demais.
_ Não sei. Gosto de ficar com você, mas to saindo de uma fase complicada da minha vida, não sei se conseguiria realmente me envolver com alguém agora.
Respira fundo, a pizza fica pela metade, esquecida. O copo vazio, o cinzeiro cheio.
_ Melhor pedir a conta. Acho que não vamos chegar a lugar nenhum hoje.
_ E como fica?
_ Sei lá, não fica, a gente vê com o tempo.
Não demorou muito foram embora. Naquela noite resolveram dividir a cama e dormir para fingir que tinham resolvido alguma coisa. Demorou mais um pouco e o tempo disse que realmente não daria certo. E por duas vezes eu tive essa conversa, mesmo enredo, mesmo final, mas cada uma de um lado da mesa, pessoas diferentes, momentos diferentes e igualmente desencontrados, errados. Com certeza o medo é o pior inimigo das relações amorosas.