quinta-feira, janeiro 12, 2006

Mais um ano...

A areia penetrava entre seus dedos, descalça, de vestido branco e de olhos fechados. Na sua frente o mar, ao seu redor muitas pessoas, a rua sem carros. Fez um pedido, os olhares voltados para o céu, ela ainda de pálpebras cerradas. Queria deixar tudo de ruim no passado, desejaria as coisas boas que faltaram. O primeiro fogo colorido explodiu, e a multidão, em polvorosa, gritou e se abraçou. Logo que abriu os olhos, sentiu o aroma do ano que chegava. As cartas disseram que os dias em 2006 viriam iluminados, as portas se abririam... O gosto do novo deu-lhe a certeza de que naquele ano tudo seria lindo. Alguém estourou uma garrafa de champagne perto dela, um pouco da bebida respingou em seu vestido. E por mais que almejasse apenas ilusões, acreditaria nelas durante aqueles instantes de festa.

domingo, janeiro 08, 2006

O circo místico

(Chico Buarque)

Não
Não sei se é um truque banal
Se um invisível cordão
Sustenta a vida real
Cordas de uma orquestra
Sombras de um artista
Palcos de um planeta
E as dançarinas no grande final
Chove tanta flor
Que, sem refletir
Um ardoroso espectador
Vira colibriQual
Não sei se é nova ilusão
Se após o salto mortal
Existe outra encarnação
Membros de um elenco
Malas de um destino
Partes de uma orquestra
Duas meninas no imenso vagão
Negro refletor
Flores de organdi
E o grito do homem voador
Ao cair em si
Não sei se é vida real
Um invisível cordão
Após o salto mortal

quarta-feira, janeiro 04, 2006

O entregador de flores

Era agradável estar em um café, um café com cheiro de livros novos. Ela pediu um capuccino com creme. Todas aquelas mesas redondas... Pessoas que conversavam ou apenas se observavam. Ela sozinha. Era curioso imaginar qual seria a história que viria por trás de cada rosto, o que os teria levado a estar justamente ali. Se fosse situação antecipada pelo destino, seria coincidência demais. Ela olha ao redor e espera. Queria encontrar algo que perdera. Não sabia exatamente o que e nem onde devia procurar, mas o sentimento da falta, o vazio crescente a incomodava. Quantos minutos já se passaram desde que chegara? Ela olha o relógio. E se aquilo tudo fizesse parte de um sonho? Os sonhos não são as realizações do inconsciente? Desejos guardados? Segredos?... Talvez fosse o onírico dentro da realidade ficcionada. Ela bebe um gole do capuccino, ansiosa.

Ele demora um segundo para reconhecê-la, sentada timidamente naquela cadeira, os cabelos espalhados pelas costas. Aproxima-se sem pressa, quer fazer uma surpresa. Ele sorridente. Antes que sinta sua presença, ele coloca o ramo de flores diante dos olhos dela... Era um presente. Ela apanha as flores, mas não quer se virar rapidamente, deseja deter aquele momento e vivê-lo mais um pouco. Ela e as flores.