domingo, fevereiro 17, 2008

A Deusa do Amanhecer

_ Com que asas, Aurora, ela chegou?
_ Com as asas brancas da bela mariposa do anoitecer.
_ Desceu com leve entortar de pés até o galho da paineira?
_ E entre as claras plumas que se desprendiam dos frutos ressequidos, as pequenas nuvens.
_ Haveria mel?
_ O mel que lhe empapou os dedos quando os aprofundou no buraco da árvore e contornou seus lábios.
_ E depois?
_ Depois se sentou por ali, pensativa, a esperar o findar da noite e o raiar do dia.
_ E sonho havia?
_ Em pequenos blocos. Iam estourando como bolas de sabão, quando ela os soprava para longe. E plim plim plim era possível ouvir.
_ E o sonhar se espalhava como chuva em gotas de imaginação pelas cabeças adormecidas em terra?
_ E pelas plantas e pássaros. E nisso apareceram as primeiras cores do dia, como o azul e o rosa a se misturar.
_ E quando ela foi embora?
_ Assim que cheguei. Antes eu observava de longe, embebia seu cheiro doce, impregnado de noite e estrelas. Sabia que ela fugiria.
_ Mas o medo era tanto que ela precisava fugir de pronto?
_ Medo não. A luz queimaria seus olhos tão logo eu chegasse. E como era linda a pequena alada, caberia na palma da sua mão. Fada malcriada nem me deu bom dia, e se foi.
_ E então?...
_ Amanheceu.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Pela falta de presente


Amiga querida,

Não sei como me desculpar, talvez tenha sido culpa das fantasias de carnaval, fiquei fora do meu mundo, brincando de não ser eu. Acreditei que aqueles quatro dias podiam ficar suspensos e que a gente podia fazer o que quisesse, se divertir sendo muitos outros e esquecer da própria vida. Às vezes é bom deixar de ser você um pouquinho e se esquecer dos problemas. Queria muito que você fizesse parte daquele carnaval sem época, com todo mundo fantasiado, as marchinhas. Tanta festa, tanta serpentina e confete. Queria ter te dado um abraço de parabéns no meio daquela chuva e nós duas sujas da lama de papel e cerveja. Mas é verdade, me esqueci. Só voltei a contar os dias ontem e ai já era tarde. E nessa ressaca do carnaval me culpo pela falta de presente, de presença e de lembrança... Mas querida, eu te adoro. E levarei bolo de chocolate e o que sobrou dos confetes. E se eu puder te dar algo nesse momento te darei um conselho, amor dói, mas passa. E sabe o que a gente pensa no final? Quando passa? Que não valeu a pena, eu digo: sofrer... Porque a única pessoa que pode fazer isso mudar e a dor passar, no fundo você sabe, é você. Então querida, nós só temos a comemorar, a sua existência, a sua alegria, a sua amizade, a sua força. Nós só temos a agradecer a Deus por esse dia maravilhoso que você nasceu. Por isso não fique triste por qualquer amor mal resolvido, é só olhar ao redor e enxergar quantas pessoas te amam. E saber em qual amor vale realmente se agarrar.

"Pois não é que ao descobrirem que era o Mundo a causa do sofrimento da Lua, puseram-se os bons velhos sábios a dar gritos de júbilo e a esfregar as mãos, piscando-se os olhos e dizendo-se chistes que, com toda franqueza, não ficam nada bem em homens de saber... Mas o que se há de fazer? Freqüentemente, a velhice, mesmo sábia, não tem nenhuma noção do ridículo nos momentos de alegria, podendo mesmo chegar a dançar rodas e sarabandas, numa curiosa volta à infância. Por isso perdoemos aos bons e velhos sábios, que se assim faziam é porque tinham descoberto os males da Lua, que eram males de amor. E males de amor curam-se com o próprio amor - eis o axioma científico a que chegaram os eruditos anciãos, e que escreveram no final de um longo pergaminho crivado de números e equações, no qual fora estudado o problema da crescente palidez da Lua." (Vinicius de Moraes - Trecho de O Casamento da Lua)

Feliz aniversário (atrasado) e um beijo

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Máscara Negra



(Zé Keti-Pereira Mattos)

Quanto riso oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da colombina
No meio da multidão
Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou e te beijou meu amor
Na mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval