domingo, setembro 24, 2006

Em dois dias, dois amores...

O primeiro foi amor que vacila, de início nega, depois penetra sem dizer por onde, ou pelas raias do coração de repente, ou por um peito esquecido aberto. E então pelo corpo se junta à corrente e se espalha em pequenas dozes de vício que começa.
O segundo veio de um amor sorrateiro, que se apresenta sem pressa, num dia de mesmice, na coincidência de um sorriso. E então, sem explicações, ele cresce na quentura da madrugada e amanhece colado.
Os dois, em noites de chuva, se resolvem. Com o coração saltado, cheiro no cabelo depois de dedos entrelaçados em cafuné, a insônia permeia sonhos despertos. E os dois brincos de estrela ficaram pelo chão...

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"Cada um acha uma coisa.
Pra mim amor é assim. Pra outro é assado." Ana Moura

sexta-feira, setembro 15, 2006

Quadrilha

(Carlos Drummond)

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Esqueci o guarda-chuva

Depois do segundo cigarro, sétima cerveja e alguns goles aleatórios de pinga, ela começa a pensar que as coisas podiam ser, afinal de contas, mais simples e que a vida adquiria uma beleza exótica e embaçada em situações como aquela. Sentia-se apta a dizer tudo, aquelas palavras que já passara horas, dias inteiros e noites em claro afiando para no momento exato dizer a frase certa, sem titubear. Se tomasse coragem podia fazer daquele instante o momento... Mas o tal instante sempre passava em brancos calados silêncios e ela não dizia, ou não dizia o que trazia guardado naquele compartimento secreto do pensamento. E as nuvens fechavam os dias que passavam em branco. E aquela noite... Festa, amigos, cerveja, cigarros, risadas altas, abraços, sorrisos... E uma boca que se encosta no canto da outra, por um descuido, no momento da despedida. No ponto de ônibus ela se lembra que esqueceu o guarda-chuva.