domingo, julho 23, 2006

Para alguém que não lerá essa carta,

Um dia pensei, quem sabe... Nunca havia sido possibilidade, mas de repente... Quem sabe? Teus olhos me encontraram em algum momento que, distraida, fitava-te. E então sim, cobri-me de certezas, queria não só teus olhos sobre mim, e não apenas por um momento. No entanto, como fazer para alcançar-te do outro lado do muro? Você insistia em não compreender meus carinhos e toda palavra disperdiçada em nossas conversas longas. Para mim, o gostar era óbvio, e crescente, e doído. Você nem notava... Nem notova minha voz mais doce, o olhar mais demorado, as mãos se encostando quase sem querer, mas uma ali ao lado da outra, num roçar de peles. Eu me enfeitava para você, como também pensava e queria você, enquanto outros amores tomavam sua cabeça. E mesmo que chorar não fosse a solução, chorava por não conseguir dizer-te tudo. Porque o meu medo era que você nunca soubesse e o sentimento morresse abafado... E então, não mais teria seus olhos, seus cabelos, sua boca, seu jeito tão próprio de me fazer apaixonar, não teria mais nada, sem abalos, sem carinho, sem acontecer possibilidade, você nem imaginaria... E no final das contas, o amor se dissiparia, calado.

quinta-feira, julho 20, 2006

Vejo o Rio de Janeiro...

(By Celis)

O momento em que você vê pela primeira vez... A praia... Ou aquela praia... Porque sempre de ouvir falar... e tudo lindo, de repente a imagem diante dos olhos, a sensação de estar ali, presente e se sentir presente dentro daquilo tudo que de tanto ouvir falar já era criação da mente, sem ser verdade. Cartão postal, muita beleza, aquele mar que te molha os pés na areia, Rio... Mas não só era bondinho, nem Copacabana e Ipanema, eram as pessoas e o cotidiano que se entrelaçavam na paisagem... Como se na coxia aquelas pessoas vivessem para o lugar, espetáculo para quem se dispusesse a parar um instante e admirar. E ali, naquele pedaço, o pedaço era pouco, a vontade era de ver tudo, esperar por cada novo olhar, que encontra o novo, já tão velho conhecido de outras conversas. E cada detalhe deve ser registro preciso, sem fotografia, a mente guarda sozinha todo aquele dia, o céu com as montanhas lá no fundo, e as cores. As pálpebras gravam as formas antes que a cabeça se vire para o outro lado e de repente tudo fica apenas ali, e para sempre, mesmo que o tempo desbote um pouco...

sexta-feira, julho 07, 2006

Na rodoviária

Luiza:
Se pudesse voltar os segundos, voltaria não para dizer as palavras gastas... Sussurraria um beijo em seu ouvido e guardaria seus olhos de logo depois, surpresos imagino, dessa surpresa de não se esperar, mas sempre bem vinda. E então partiria, calada ainda.
Caio:
E eu te esperaria para algum dia, amanhã, daqui muitos anos, um dia perdido no tempo, e mesmo que nenhum dia houvesse... Te esperaria, com a lembrança do beijo, latente, e o gosto do teu perfume nos lábios.

O ônibus partia em meio à névoa de fumaça escura. Ele de pé na plataforma, sem esboçar reação. Ela numa das cadeiras perto da janela, vendo-o ficar cada vez mais distante. E nenhum dos dois se precipitaria em parar o tempo e voltar, desesperadamente... Apenas seguiriam para lados opostos.

sábado, julho 01, 2006

Quando falta

Não encontro! Procuro por entre as palavras que tropeçam meu caminho, e desaparecem em sublimação instantânea e não encontro. Sabe? Quando a correspondência do olhar não vem... Seu poema preferido, que um dia não lembra mais. E se não souber o que busco? Leve-me pela mão e espalharemos flores despetaladas pelo jardim. E os amores desfiam seus desfechos em qualquer esquina. Parei, não sabia explicar... Mas confesso que prendi a respiração quando pensei ser você... Não era.
Imagina... Lá no fundo o beco, nasce uma flor na greta do muro. E eu ali a procurar, que insistência em procurar! Ora essa, e se não houvesse nada? Seria triste... E os dias passam apressados e não consigo atravessar a rua.
As pinceladas recheadas de tinta borram as formas. As tuas fotos? Escondi na gaveta. Dane-se! Acredito que o violão conta mais verdades que os conselhos e qualquer bossa nova me faz sorrir. Ontem te disse um segredo... Palavras belas, às vezes, são por demais vazias.
Queria um dueto com Chico, e talvez nesse momento encontre... Vozes emaranhadas em quintas e terças, sim! Estaria ali, tenho certeza, tudo resumido na efemeridade da canção.