Para alguém que não lerá essa carta,
Um dia pensei, quem sabe... Nunca havia sido possibilidade, mas de repente... Quem sabe? Teus olhos me encontraram em algum momento que, distraida, fitava-te. E então sim, cobri-me de certezas, queria não só teus olhos sobre mim, e não apenas por um momento. No entanto, como fazer para alcançar-te do outro lado do muro? Você insistia em não compreender meus carinhos e toda palavra disperdiçada em nossas conversas longas. Para mim, o gostar era óbvio, e crescente, e doído. Você nem notava... Nem notova minha voz mais doce, o olhar mais demorado, as mãos se encostando quase sem querer, mas uma ali ao lado da outra, num roçar de peles. Eu me enfeitava para você, como também pensava e queria você, enquanto outros amores tomavam sua cabeça. E mesmo que chorar não fosse a solução, chorava por não conseguir dizer-te tudo. Porque o meu medo era que você nunca soubesse e o sentimento morresse abafado... E então, não mais teria seus olhos, seus cabelos, sua boca, seu jeito tão próprio de me fazer apaixonar, não teria mais nada, sem abalos, sem carinho, sem acontecer possibilidade, você nem imaginaria... E no final das contas, o amor se dissiparia, calado.