quarta-feira, outubro 14, 2009

A caixa de



Teus olhos de mansinho se viram nos meus. Que surpresa encontro, assim que rasgar os papéis rotos do embrulho, arranjado às pressas? Para além deles vou devagarinho ver o que está por dentro da caixa. O que esconde o cubo de papelão. Descobrir se o presente ocultado revela algo mais, mais do que o objeto apenas. Inesperado ou não. Vazia ou cheia, a embalagem já está nas mãos. Sujeita à última fita adesiva que a mantém fechada. Sujeita ao último instante em que as pontas dos dedos se debatem contra a tampa, prestes a expor a verdade. O ritmo dos dedos marcando a dúvida. Todo o resto na espera. De manhã o tempo era nublado. Existe uma fresta no embrulho, mas a curiosidade vacila, e a caixa fica embaixo da mesa. Guardada. De tarde o sol apareceu.

quinta-feira, outubro 08, 2009

De fora pra dentro e vice-versa

Debruço-me dentro de mim,
Deparo-me com o medo do vazio.
A vista curiosa escorrega.
E nesse caso a queda é livre.
Meu corpo cai dentro do meu próprio corpo,
O vazio é ao que me agarro. Onde procuro.
Se há coragem fecho os olhos e caio no escuro.
O corpo é leve, a alma pesada
Nas paredes grossas só há músculos tensos
Enrijecidos com o tempo, desacreditados
O sangue ainda corre, mas se o que sobrou foi muito pouco
Ou quase nada? Ainda procuro no final?
Mesmo que escuro? Escuro, uro, uro, uro...
Ecoa, voa, ricocheteando palavra em célula.
Do meu eu hoje entrando em colisão com todos meus eus que já pensei ter sido.