Até breve Sérgio
Hoje amanheci com a triste notícia da morte do Sérgio Britto. O meu dia escureceu em meio a uma manhã ensolarada de céu azul. Eu gostaria de dizer para ele, obrigada. Obrigada pelos ensinamentos, pela generosidade, por me apresentar a cineastas maravilhosos dos quais eu nunca tinha ouvido falar. Lembro-me de vê-lo passar, cabelos brancos, andar lento, óculos no rosto, sempre simpático, acenando para todos. Nos primeiros dias do meu primeiro estágio na TV E, eu o olhava de longe, pensando na honra que era trabalhar ali, no mesmo lugar que ele. Eu não trabalhava no “Arte com Sérgio Britto”, mas na convivência diária da TV, eu podia observá-lo, meu olhar atravessava a sala, e via-o em sua mesa preparando seus textos, pensando nos temas que seriam abordados e quando nos esbarrávamos nos corredores, ouvia-o falar de arte e de cultura. Durante o primeiro ano que trabalhei na TV não tive coragem de me aproximar mais, abordá-lo e conversar, apesar de ter tido muita vontade de fazê-lo. Simplesmente não sabia o que dizer quando as chances surgiam e deixava o momento passar. Depois de pouco mais de um ano na TV, o programa que eu trabalhava terminou, e acabei indo parar justamente no programa do Sérgio. Lembro-me do dia em que fomos apresentados, e finalmente, a partir daquele momento tive a oportunidade de conhecê-lo. O Sérgio, além de um ator espetacular, era um profundo conhecedor das artes. Nas estantes da sua casa, eram livros e filmes de perder a conta. Durante o tempo que trabalhei com ele pude aprender muito e arrisco dizer que perdermos nosso maior conhecedor de cinema e teatro. Eu já estava há um ano e meio na TV e resolvi tentar coisas diferentes, outros trabalhos, mas guardei um carinho enorme pelo Sérgio, que ficou maior ainda quando, um ano depois, ele aceitou fazer uma participação no meu filme de conclusão de curso, que realizei junto com amigos da faculdade e da TV. Eu não posso dizer fui uma pessoa muito próxima do Sérgio, mas já me orgulho por tê-lo conhecido um pouco. E posso dizer que ele tinha uma maneira simples de ver as coisas, e de levar a vida. Lembro-me do que ele me disse durante a filmagem do curta logo depois de ser abordado por um senhor que passava: “Sabe, Marcela, uma das melhores coisas de ser ator é que as pessoas se sentem à vontade para se aproximarem e falarem com você. E isso é maravilhoso!”. Escrevo esse texto, Sérgio, para te agradecer. Agradecer pela oportunidade, pelos ensinamentos e pela generosidade, pois você, um grande ator, ajudou uma equipe de jovens começando carreira a fazer um filme, sem cobrar nada por isso e se divertindo no dia das filmagens. E ainda contribuiu na divulgação depois que o curta estava pronto fazendo uma matéria no seu programa. Podem se passar muitos anos, eu não vou esquecer isso, pois esse é um pedaço lindo da minha vida, do qual você faz parte. Muito obrigada.