sexta-feira, agosto 31, 2012

Um conto pequenino

Eram três irmãs na janela.


A primeira casou-se cedo, teve um par de filhos, um menino e depois uma menina. Era pedagoga de formação, mas nunca exerceu a profissão. Um dia como qualquer outro, deixou cair uma lata de ervilhas no supermercado, ao fazer as compras do mês, e enamorou-se perdidamente por Paulo. Largou tudo, os filhos já estavam praticamente criados, foi pruma cidadezinha do interior, abriu uma livraria junto com Paulo e foi feliz.
A segunda era da pá virada. Fez de tudo um pouco. Assim que terminou o colégio não quis se comprometer nem com faculdade, nem com casamento. Aderia às manifestações do povo e trabalhava para juntar um trocado e viajar pelo mundo. Viajava até onde o dinheiro dava, quando ele acabava fazia mais uns bicos e viajava mais um pouco. Sua morada era sua mochila nas costas. Perdeu-se pelo mundo. Não teve filhos. Essa sempre foi feliz.
A terceira era a mais quieta e seguiu a cartilha até certo ponto. Teve boas notas no colégio, fez faculdade de arquitetura e comprou um apartamento. Gostava de poupar dinheiro para comprar as coisas e sentir-se segura. Apaixonou-se algumas vezes, até que se juntou com Cícero. Será que isso era tudo? Ela se perguntava. A felicidade estava ali? Contida nas economias, no emprego, na casa, no relacionamento estável? O próximo passo seria um filho e tudo estaria completo, como seus pais haviam previsto desde o dia em que ela nascera. Mas achava cedo, não se sentia pronta. Resolveu escrever um livro e acabou se descobrindo. Estava vivendo a vida de outra pessoa. Vendeu tudo, terminou o namoro e foi explorar as possibilidades. O livro ficou inacabado, mas assim que partiu para a vida, encontrou a felicidade.