quinta-feira, agosto 30, 2007

Porque falta...

Agora há a falta. Há de ter o quê não se tem, porque falta. Falta aquele dia que já foi, porque ficou ali, muitos dias para trás. E hoje, amanhã mais ainda, vai parecer que nem foi e por isso, falta. Faltam outros dias como aquele. Ou como aquele outro, também bom. Dormir, acordar, ter-te bem ali ao alcance das mãos, na ponta dos dedos sentir tua pele enquanto dormia. Pele com pele, calor que me falta, faz frio. Não vejo o teu sorriso de manhã, do meu lado o travesseiro vazio. Nele restos do cheiro, que vai sumindo aos poucos, provando que os dias continuam vindo e te afastando, e te fazendo desaparecer, homeopaticamente, em dozes de 24 horas. Um dia depois o outro. E assim por diante. No quarto alguns resquícios te lembram, você falta. Faz falta olhar-te nos olhos e lá fundo tentar descobrir o mistério, ou então, qualquer coisa que fale, só pelo som da sua voz, falta. A morte da pessoa viva, o inalcançável mesmo que bem perto. E dói tudo, espero que passe, tão logo essa corrente fria. Desfazer o amor, nó por nó, desembolar a linha, mesmo que comprida, sem pressa, mas continuamente. Decidi me esmerar e deixar-te como lembrança boa, ali em qualquer outro lugar que não me machuque. Sem querer, pedi que fosse embora, não me despedi, você não respondeu. E por dentro grito no meu silêncio falso, falta. Desculpe o amor, vou ver se ele passa. Recolhi conselhos pelo caminho, algo a ver com tempo, algo a ver com outro amor, o próprio. Sigo com a tua falta enquanto perdurar a estrada. Pedi uma fórmula, ninguém sabe. Acho que o remédio é se habituar, conviver com ela em cada momento que te lembre. Medo de ir dormir e sonhar, os sonhos são sorrateiros e te buscam em algum canto. E no despertar, vejo a falta, no vazio do quarto de manhã.

terça-feira, agosto 28, 2007

Em busca de um sono tranqüilo

Mas quando eu cantava era diferente... Agora faço filmes, virei fumante e pouco escrevo. Aquele pouco, não mais que o necessário. Mudei de vícios e de pessoas. Mudei de casa, de rua, de cidade e estado. Mudei-me por completo, um completo tão cheio, que me revirei do avesso. Às vezes não mais reconheço o que sou, ou o que fui, depende do momento. Ouço a música dos tempos outros, que, por pouco, permanece nos tempos hoje. Por um último triz a agarro e não deixo ir embora, ainda pego o violão, ainda canto em noites de bebedeira. E quando me perco pelo chão dos tacos e adormeço de sono contido dos dias, me rendo ao cansaço e não sonho.Ando muito pelas ruas, atravesso cidades e na madrugada vou sozinha pelos quarteirões, aqueles dois, pensando o porquê das coisas. Também me perco nessas horas, entre as cidades, muitos lugares novos e de repente não sei por onde andar, as ruas me cortam. Pelos quarteirões sigo com os cigarros, companhia mais fiel e no pensamento me confundo nas idas, vindas e volto pra casa. O caminho é fácil. As conclusões, mais difíceis, deixo para a manhã seguinte.Ontem, a conversa era sobre amor, traição, desamor. Eu dormia. Depois das discussões mais apimentadas, bate a dor de cotovelo regada a álcool. Então não sei mais acordar, nem o quê responder. Se já o amor veio, como penso ter sido, veio também o desamor que me dói, não de mim, mas para... Mudei de nome, e depois de tantas mudanças, ainda escuto a mesma música, repetidamente. Ela fica, pelo menos. Fui embora de mim, mas me busco quando já não posso mais me perder tanto.